Eu ganhei um ingresso do festival F.I.N.D. 2014 para ir visitar uma instalação sueca de 240 horas seguidas de performance („Meat“). Então eu li esse texto e fiquei desanimada:
http://find-blog.de/post/78430593803/240-hours-of-meat-by-joseph-pearson-the
Por construir um mundo como o do assassino, toda a equipe de atores e produção começam a compreender como a mente dele funcionava e, então, as coisas “passavam a fazer sentido” – e ser convencido por essa realidade é que é a parte assustadora do processo, de acordo com o diretor.
Depois, no facebook, uma amiga postou o seguinte texto, publicando no „The Guardian“:
http://www.theguardian.com/world/2013/oct/20/young-people-japan-stopped-having-sex
Então, eu tenho algumas coisas a dizer.
As coisas que fazemos não são inofensivas. As coisas que criamos não são inofensivas. As coisas que dizemos não são inofensivas. As coisas que aceitamos também não. A tecnologia não é inofensiva; assistir a filmes pornôs não é inofensivo. Fazer compras no shopping também não. Os produtos que consumimos não são livres de culpa. Nenhum de nós está isento de responsabilidade.
Algumas obras de arte podem ser manifestações divinas na Terra, mas o artista nunca é deus. Poucas vezes o artista é, sequer, um homem inteiro.
Hitler tinha como ídolo o rei da Prússia „Frederico, o Grande“, apesar de esse rei ter se destacado na sua época por sua benevolência, ser um artista e filósofo iluminista e propagar a tolerância religiosa. Hitler também usou conceitos desenvolvidos por Nietzsche („der Übermensch“), embora em sua obra houvesse uma grande afirmação da vida e não incitação à dizimação em massa… E Wagner foi “o compositor” da Alemanha nazista…
Marilyn Manson não é culpado pelos massacres em Columbine. New Order não é responsável pela música usada no vídeo feito pelo assassino Luka Rocco Magnotta.
Mesmo assim, é impossível dissociar esses artistas e filósofos dos eventos nos quais foram usados. Eu nunca mais vou conseguir ouvir “True Faith” da mesma forma…
E ainda não descobri como não ser a outra face de uma mesma moeda por não conseguir aceitar e nem querer corroborar com a sociedade que temos hoje, para que ela continue se propagando. A minha pergunta interna é: ao ser intolerante contra homofóbicos, contra fanáticos religiosos, contra racistas, contra estrupradores e perpetuadores do patriarcado e de outros males seria eu mais uma dos intolerantes e julgadores do mundo? A minha força seria a mesma da dos opressores? Isso é, para mim, uma proximidade indesejável. E sinto que preciso continuar pensando em como não fazer mais parte dessa moeda.
Esses sistemas corruptos e imundos estão fadados a cair. A questão é quanto estrago fazem pelo caminho até esse momento. Hitler levou seis milhões de judeus, um milhão de outras minorias, vários inimigos políticos, alguns civis e oficiais nazistas, entre outros. E, enquanto isso, pessoas comuns e que aparentemente apenas levavam as suas vidas estão sendo e serão aniquiladas. É o que observamos. Esse terror de catástrofe natural ou social não é de agora; seguem em ondas. Acontecem desde que o mundo é mundo. As nossas civilizações (e já tivemos várias) nunca superaram esses fenômenos, muitas civilizações acabaram, outras nasceram e eles continuam acontecendo.
Tenho estudado a história de Berlim para trabalhar como guia turística e é impressionante o quanto a gente não sabe no Brasil (quanto descaso, desinteresse e falta de curiosidade temos, e o quanto isso influencia a nossa vida em sociedade). Ao mesmo tempo que fico aliviada por ter saído do “prefiro não saber”, passei a ser intolerante com quem apresenta essa escolha. As coisas se repetem em outros níveis pela história do mundo, em várias sociedades, inclusive na brasileira – ou a criação de um partido com o nome de “Frente Nacional Brasileira”, feito por um militar que é a favor de ditaduras não lembra em nada o partido nazista dos “Nacionais Socialistas”? Os fatos e personalidades que estudamos nos livros não são invenções distantes, são reais e simples ideias podem ser levadas a extremos absurdo do fanatismo e causar tanto mal e destruição. E, finalmente, como tudo o que fazemos, ouvimos e aceitamos não é inofensivo.